
O Peso da Solidão — A Travessia Silenciosa do Criador
Você vai descobrir a jornada de um artista que atravessa o silêncio, enfrenta o vazio e descobre como transformar dor em beleza.
3 min read
O eco do vazio
Mateus era artista. Pintor, escultor, sonhador — tudo misturado em um corpo inquieto e uma mente que nunca descansava.
Durante anos, seu ateliê foi um lugar cheio de cores, música e gente. Mas, de repente, a vida mudou. A pandemia levou pessoas, os amigos se afastaram, os convites desapareceram.
Restou o silêncio.
Nos primeiros dias, ele tentou resistir. Ligava o rádio, fingia ocupar o tempo, buscava ruído para não ouvir o que o silêncio dizia. Mas a solidão não é apenas ausência de pessoas — é o eco de si mesmo quando tudo cala.
No fundo, ele sabia: estava prestes a atravessar algo maior do que a saudade.
A travessia silenciosa
Certa noite, Mateus saiu de casa sem destino. As ruas estavam vazias, as janelas apagadas. Caminhou até o topo de uma colina onde costumava ver o nascer do sol.
Lá, o vento soprava com força. O céu, carregado de nuvens, parecia refletir seu próprio coração.
Sentou-se e chorou.
Não um choro dramático, mas aquele tipo de choro manso que vem quando não há mais resistência.
Naquele instante, percebeu que estava diante da travessia silenciosa — o momento em que nenhuma palavra, nenhuma companhia, nenhuma distração pode atravessar por você. Só o silêncio e a coragem de continuar.
O encontro com o vazio criador
Dias depois, de volta ao ateliê, algo nele começou a mudar.
O silêncio já não era inimigo — era matéria. Começou a observar o branco das telas como um espaço aberto, não como ausência.
Passou dias apenas misturando tintas, sem pintar nada. Como se estivesse aprendendo uma nova língua.
Até que, num fim de tarde, mergulhou o pincel no azul e começou a traçar linhas sobre o vazio. Linhas suaves, depois firmes.
O quadro nasceu em silêncio. Nenhum rascunho, nenhuma pressa. Era como se o próprio vazio orientasse suas mãos.
A criação como travessia
Com o tempo, Mateus percebeu que cada cor representava uma emoção que havia evitado sentir. O vermelho do medo. O amarelo do desejo. O azul profundo da solidão.
A tela se tornou espelho — e o espelho, passagem.
Ao pintar, entendeu que a criação é uma forma de atravessar a dor.
O Criador não foge do vazio: ele o transforma em forma, som, palavra, cor.
Não cria para fugir da solidão, mas para compreendê-la.
O aprendizado do silêncio
Certa manhã, uma vizinha bateu à porta.
— Faz tempo que não te vejo. Está tudo bem? — perguntou, curiosa.
Ele a levou até o ateliê. Ao ver os quadros, ela ficou em silêncio.
As telas tinham uma força calma, como se contivessem todas as vozes que ele havia perdido — e todas as que havia reencontrado dentro de si.
— É lindo… — ela disse, emocionada. — Mas tem algo diferente.
— Talvez porque foi o silêncio quem pintou comigo — respondeu Mateus.
A mulher sorriu. E, ao sair, acrescentou:
— Acho que o silêncio está precisando de mais artistas assim.
O peso que se transforma
Naquela noite, Mateus escreveu no diário:
“A solidão tem peso de pedra no início, mas de argila no fim — maleável, transformável. O que antes esmagava, agora molda.”
Percebeu que o peso da solidão não havia desaparecido. Ele apenas aprendera a dar forma a esse peso, a criar beleza onde antes havia ausência.
O Criador compreendeu que sua arte não era para enfeitar o mundo, mas para restaurar sentido.
O retorno do som
Com o passar dos meses, seu ateliê voltou a receber pessoas. Alunos, curiosos, amigos que retornavam. Mas, mesmo entre vozes e risos, o silêncio permaneceu dentro dele — não como vazio, mas como solo fértil.
Quando alguém perguntava o segredo por trás de suas novas obras, ele respondia com serenidade:
— Foi o silêncio que me ensinou a ouvir a vida.
Conclusão
Alguns dizem que a solidão é prisão.
Mas para Mateus, ela se tornou ponte.
A travessia silenciosa o transformou em um criador mais inteiro, mais humano, mais vivo.
E sempre que a noite parecia longa demais, ele lembrava:
“O vazio que assusta é o mesmo espaço onde nascem as novas cores.”
"O peso da solidão pode parecer insuportável, mas é nele que o Criador encontra o material da transformação."
👉 Se esta parábola sobre solidão e criação falou com você, compartilhe com alguém que também atravessa um tempo de silêncio.
E não pare aqui: leia outras parábolas modernas em nosso blog e descubra como cada travessia pode se tornar uma obra de arte interior.



© 2024. All rights reserved.
Todos os direitos reservados a Carlos Araújo